segunda-feira, 20 de janeiro de 2014


Fanfic:
Jogos Vorazes – Edição número 27.
Sinopse: Serena Gold é uma jovem de 16 anos que reside no Distrito 1, localizado em Panem, uma nação futura que nasceu das cinzas de um país que já fora um dia chamado de Estados Unidos. Serena é uma tradicional e normal jovem que frequenta a Academia de Carreiristas do Distrito 1, o problema é que é apenas uma entre muitos irmãos numa família que liga muito para os Jogos, então sente uma grande necessidade de mostrar-se a melhor. Entre muitas tramas e mistérios, ela é levada aos Jogos Vorazes e tem de tentar manter-se viva enquanto pessoas que ela ama provavelmente terão de morrer no seu lugar. Será que ela voltará para casa este ano? Será que as pessoas irão finalmente reconhece-la?

Distrito 1, um dos 12 Distritos de Panem. Um lugar luxuoso e agradável, porém apenas para encobrir os danos de uma nação infeliz comandada pela abominante e horrenda Capital.
Abri meus olhos e senti o sol queimando em meu rosto. Olhei brevemente para o relógio, resumindo que era muito cedo e logo o cheiro de panquecas preencheu minhas narinas. Era hoje o dia que tudo aconteceria de novo, como todo ano na mesma data. Hoje eu provavelmente perderia a chance de realizar meu sonho para algum babaca mal treinado da Academia novamente.
Meu nome é Serena Gold, tenho dezesseis anos e resido no distrito 1, o distrito mais ligado a Capital, tanto pela localização quanto pela lealdade (que às vezes eu acho que parte apenas de nós). Eu treino na Academia de Carreiristas desde os meus sete anos, com a intuição de conseguir ser a escolhida para representar meu distrito nos Jogos Vorazes. A Academia de Carreiristas é obrigatória para todos, quando você completa sete anos você tem de se registrar. Isso é meio que uma ordem da Capital, mas ninguém nunca se rebelou por caso disso, na verdade, é um prazer poder treinar, porque depois você pode usar os tantos anos de treinamento para aniquilar todos na arena. 
Tenho perícia com arco-e-flecha, é o meu vício, não sei o que seria sem esse meu dom. É uma das coisas com que eu mais me identifico. Tenho três irmãos, Kaiden, de 18 anos, Mia, sua gêmea (por mais que eles não se pareçam nem um pouco) e Lottie, a caçula, de 14 anos. Minha família é grande demais, e às vezes sinto que ninguém liga para mim. É tudo muito tradicional, ser vitorioso não é mais do que apenas uma obrigação. Então mesmo eu tendo pulado dois níveis na Academia (o que é muito difícil, e muito fácil de repetir com um mísero errinho) ninguém nem liga. Todos amam a Mia, minha irmã mais velha. Ninguém nunca percebe que eu sou a mais dedicada da família, todos acham que é a Mia, mesmo ela não tendo pulado nenhum nível. Ela pode ser muito boa, mas só treina quando tem um bando de gente ao seu redor para contemplá-la. Ela é muito badalada, frequenta todas as festas mais legais do distrito, bebe sem fronteiras e fuma. Além de já ter ficado com todos os meninos mais desejados do distrito. Isso me deixa muito, muito alterada. Por que diabos é tudo a Mia? Só porque ela rebelde! Tá na hora de eu a mostrar o que é ser rebelde.
Vesti meu roupão e minhas pantufas de camurça e desci as longas escadas de mármore até a cozinha. Fui a última a acordar, porque no dia anterior havia tido um longo e cansativo dia. Tinha sido a última a sair da Academia, como em toda véspera da colheita. Tinha que mostrar para os treinadores que eu era a melhor. Seriam eles, como todos os anos, que escolheriam os dois melhores tributos para se voluntariarem. Alguns deles não duraram nem meia hora me assistindo. Treinei até mais ou menos umas três da manhã, até Reedus, meu treinador me dizer que estava na hora de ir embora, que se fosse por ele eu já teria ido quantas vezes quisesse para os Jogos, mas já estava muito tarde, todas as outras pessoas que poderiam me admitir já tinham ido embora e amanhã seria a colheita, eu precisava estar descansada. Se ele não tivesse me obrigado, eu teria aguentado a noite toda.
Todos já estavam me esperando. Com a vista embaçada de sono, avistei Mia, escondida, dando um gole numa pequena garrafa de couro. Provavelmente, uma bebida alcoólica. Papai logo abriu um grande sorriso em seu rosto e disse:
– Finalmente, dorminhoca, já ia subir para te acordar! - Como resposta, apenas devolvi um sorriso, já que era uma gratidão ver papai preparando o café da manhã, e não as empregadas. Mas isso era só por hoje, quando esse dia passasse ele voltaria a acordar e sair bem mais cedo do que a gente para trabalhar.
– Treinou mais do que devia ontem, foi, Serena? – perguntou Mia, com os olhos borrados, provocando.
Mia, a pessoa mais repugnante, rebelde, grossa e idiota que eu conheço. O meu ódio por ela é maior do que qualquer um jamais pudesse imaginar.
– Te interessa?! – devolvi furiosa.
– Interessa sim, senão eu não teria perguntado! Mas eu já sei qual é a resposta, é sim. Sabe, às vezes tenho pena de você, Serena. Você tem que se esforçar tanto para ser boa, sendo que eu já tenho esse dom naturalmente. Uma pena que você tenha que ficar a noite inteira para convencer os treinadores que você é a melhor. Você tem a cabeça na lua, Serena, esse ano sou EU quem vai ter a honra de ir!
- Até parece! O meu dom é até mais natural que o seu, eu só gosto de aprimorar ele ainda mais. E outra coisa, queridinha, quem vai ir esse ano sou eu, EU! Me esforcei o suficiente para convencer os treinadores que essa é a minha vez de ir, ao contrário de você, que só treina quando tem seus amigos a sua volta. Você não quer realmente ser vitoriosa, quer apenas mostrar essa sua imagem de rebeldezinha, no fundo, você tem medo da arena. Então se contente, porque esse ano sou eu quem vai ir, não você.
- Cala a boca, Serena, cuida da sua vida.
– Ah, pelo que eu sei, foi você que veio se intrometer na minha!
– Se acalmem! Hoje é um dia importante, parem de brigar! – falou papai.
– Depois que a mamãe morreu nada mais é o mesmo. Vocês não param de brigar! Caramba, não tem motivo!  – exclamou Kaiden.
– É claro que tem motivo! Ela não para de implicar comigo! – começou Mia.
– Eu?! Querida, tudo isso é culpa sua! Foi você que começou se não percebeu ainda, sua drogada estúpi...
- O quê? Você me chamou do quê? Repete, repete para ver! – disse ela, levantando da cadeira com um olhar ameaçante.
– Calem a boca vocês duas! Vocês não tem motivo para brigar, a culpa não é de nenhuma das duas, a culpa é toda minha, então não reclamem, porque não foram vocês que mataram a mamãe! – choramingou Lottie, a caçula.
Lottie cisma de que ela matou a mamãe, porque ela morreu de uma infecção pós-parto dois dias depois do nascimento dela. As coisas desde aquele dia não são mais as mesmas. Mas essa coisa de a Lottie ficar se culpando já está ficando doentia, ela é muito dramática, além do mais, ninguém na minha família é tão normal, todos têm suas manias, todos são meio alterados se você for examinar o caso. Mas isso só começou depois que a mamãe morreu. Mia se tornou uma rebelde drogada, Lottie, a pessoa mais dramática do mundo e Kaiden... bom, ninguém sabe por onde ele anda ou o que ele faz, esse é o problema. Às vezes, a mamãe faz uma falta muito grande. Quem cuidava da gente era ela. Ela que arrumava a casa, dava ordens às empregadas e nos dava atenção quando papai estava ocupado com os negócios do distrito. Sim, meu pai é o atual prefeito do Distrito 1.
Agora, a relação da nossa família é horrível. Papai trabalha dia e noite, ocupado até de finais de semana e feriados resolvendo os problemas do distrito; as empregadas não sorriem mais, Kaiden some diariamente e eu a Mia nos odiamos. Mas o pior de tudo, como já disse, é que eu não sou reconhecida. Por isso, esse ano, eu quero finalmente ter a minha chance de ir para os jogos, eu já esperei tempo demais, esse ano o meu nível tem que ser o escolhido. E se for, sei que vou vencer, e na arena, vou chamar muita atenção, fazendo alguma coisa que deixe todos de queixo caído. Aí, quando eu voltar, todos vão me reconhecer e ver como realmente sou, do jeito que eu mereço!
– Bom, acho melhor irem se arrumar, temos que ir para a Academia, a Colheita logo irá começar. – falou papai, quebrando o gelo e desviando o assunto horrível que estava por vir. O qual ninguém estava preparado para participar.
A colheita é o dia mais esperado do ano para algumas famílias, quando todos do distrito se reúnem no Salão de Sorteio, o maior cômodo da Academia de Carreiristas do Distrito 1, que acomoda até 20.000 pessoas. Nesse salão ocorre o sorteio anual dos Jogos Vorazes. Os Jogos Vorazes é um evento que ocorre todo o ano, escolhendo por sorteio dois jovens de 12 a 18 anos, um masculino e outro feminino de cada um dos 12 distritos para serem deixados numa arena e lutar até a morte. Até sobrar apenas um competidor, que será o vencedor daquele ano dos Jogos Vorazes.
A Academia de Carreiristas do Distrito 1 é obrigatória para todos os jovens. Você começa com sete anos e faz aulas todos os dias da semana após a escola, menos sábados, domingos e feriados. No final do ano, você terá os pontos de evolução dados pelos treinadores (que são contados e descontados todas as aulas) e faz uma prova individual. No último dia de aula, é exposto um mural no Hall de Entrada com as aprovações e reprovações. As notas vão de 0 a 12, você passa com no mínimo oito. Existem 12 níveis do curso normal, além da AEIT (Aulas Extensivas Intensas de Treinamento), que é um tipo de treino mais pesado e intenso apenas para os alunos que já se formaram antes dos dezoito anos no curso normal. Quando você completa dezenove anos você é liberado para sair do curso, já que não tem mais como ser levado à arena. A AEIT situa-se na maior e mais reservada sala de treinamento da Academia. São muito poucas as pessoas que conseguem ir para lá.
No Distrito 1, diferentemente de praticamente todos os outros distritos, muitas famílias têm rivalidade por causa dos Jogos. Todos os jovens querem ser reconhecidos e se tornar um destaque sendo vitoriosos, assim como eu. Mas, além disso, seus pensamentos também são bem influenciados por suas famílias, já que, tendo um parente vitorioso, você possuirá muita fama e riqueza, pois o vencedor dos Jogos recebe uma casa para ele e sua família na parte mais chique e reservada do distrito, a Aldeia dos Vitoriosos. Além de também receberem recompensas raríssimas e sigilosas da Capital todos os anos, o que faz as famílias a quererem mais ainda levar seus filhos a treinar intensamente para irem aos Jogos.
Nós já moramos na Aldeia há bastante tempo. Pode-se dizer que a minha família é a mais tradicional de todas. Temos um grande histórico, todos conhecem a rica e popular família Gold. Minha família não aceita que não sejamos os mais fortes, todos querem que nós nos esforcemos ao máximo para sermos os escolhidos. EU NÃO SUPORTO ISSO! Sabe por quê? Porque se você for membro da família mais tradicional do distrito, ganhar os Jogos não é o suficiente. Todos do distrito vão achar que você foi obrigado a ser vitorioso, eu não quero isso, eu quero ser maior do que isso! Quero sair do tradicional! Pode ser qualquer coisa, não sei. Quero ir pros jogos, vencer e voltar, aí, ir de novo, vencer de novo, sumir da arena, botar fogo na Academia, ou sei lá, matar o Presidente. QUALQUER COISA! Eu só quero me tornar um ídolo para todos, quero que todos se lembrem de mim como a mais forte de todas e aquela que mudou a história, não como apenas uma esnobezinha que ganhou por puro interesse em dinheiro.
Subi as longas escadas até sentir um tipo de queimação em meus músculos, de tão cansado que meu corpo estava devido ao intenso treinamento do dia anterior. Então entrei na suíte, me dirigi até o banheiro e liguei o chuveiro numa temperatura bem gelada. O dia estava realmente muito quente e só de comer as panquecas flamejantes quase derreti.
Vesti meu vestido de seda rosa-bebê com rendas brancas nas mangas e devido ao calor, prendi minha longa juba dourada em um coque bem alto, deixando alguns fios caírem sobre meu rosto.
Desci até a cozinha e vi todos me esperando, menos Mia, que com certeza ainda estava passando quilos e mais quilos de sua maquiagem extraordinariamente preta. Era muito cedo, tínhamos que ser os primeiros a chegar à Academia, já que papai era o prefeito.
Logo um estrondo percorreu meus ouvidos, olhei para as escadas e lá vejo Mia, apressada, quase quebrando os degraus e por pouco, não caindo de cara no chão.
- Cheguei – disse ela, guardando a garrafinha de couro que usava para levar bebida alcóolica.
Chegamos à Academia e passando pelo Hall de Entrada, fomos até o Salão de Sorteio.
Não tinha ninguém lá, a não ser a Senhora Farah, a dona da Academia e os treinadores. Foi aí, que em meio do bando de treinadores, avistei Reedus. Calmamente fui ao encontro dele.
- Ah, olá, bom dia senhorita Gold.
- Bom dia, senhorito... Reedus. Nossa, em nove anos com você e ainda não sei o seu sobrenome.
- Callion.
- Callion. Gostei. Senhorito Callion.
- E aí, dormiu bem?
- O que você acha?
- Acho que não. Do jeito que você deve estar nervosa.
- Nervosa? Estou mais é para entusiasmada. E sim, eu dormi muito bem. Como não poderia? Você viu que horas saí da Academia ontem?
- É verdade, você deve ter gastado todas suas energias.
- É... e nem sei com que razão. Olha, você sabe que é o meu sonho ir para os Jogos. Mas, eu estou esperando minha chance de conseguir há 16 anos.
- Quatro.
- Quatro o que?
- Quatro anos. Você está esperando sua chance há quatro anos.
- Não, tecnicamente, faz até mais de 16 anos, antes de nascer eu já esperava a minha chance.
- Mas “tecnicamente’’ você só iria conseguir alguma chance com 12 anos, o que faz quatro anos que você completou.
- Sim, mas eu entrei na Academia com sete anos.
- E com sete anos você já podia ir pros Jogos?
- Não, mas...
- É isso aí senhorita Gold, quatro anos.
- Que seja, senhorito Callion.
- Mas quem sabe esse ano seja o ano?
- O ano de eu ir? Acho difícil. Você é o único que consegue realmente ver a minha capacidade. Às vezes escolhem pessoas que nem mesmo duram o banho de sangue... aqueles incompetentes. Os treinadores acham que eles têm potencial, que podem honrar o distrito, até eles verem o quão estúpidos foram por escolher pessoas incompetentes. Quem realmente tem potencial, como eu, eles não enxergam... É triste.
- Pois é, mas quem sabe esse ano seja diferente. Tenho um segredo para te contar: Eles têm preferencia em escolher os mais velhos, já que são mais bem treinados. Quem sabe você tenha sorte esse ano e eles te enxerguem, afinal, você já atingiu uma idade bem considerável. Além disso, te garanto que você chama muita atenção enquanto treina.
- Sério?
- Sem dúvida! É impressionante.
- Você diz isso, mas eles...
- Te garanto, eles acham. Já tivemos algumas reuniões, hoje será a última. Você tem grandes chances, está no Top 5 feminino.
Abri um grande sorriso, ele retribuiu.
- Bom, te vejo no sorteio, tenho que ir fazer para a tal reunião. - terminou ele.
- Ok, boa sorte.
- Para você mais ainda.
Então me dirigi de volta para onde minha família estava.
- Vo... – começou Mia.
- Não ouse falar nada. – a interrompi, irritada.
- Crianças, não querem comer nada? Não terminaram as suas panquecas e ainda demora um pouco para todo mundo chegar. – falou papai, enquanto algumas poucas pessoas entravam no Salão.
Olhei para o lado e avistei as tradicionais mesas de banquete, cheias de quitutes para comemorar a colheita. Não estava com fome, mesmo não tendo comido nem a quarta parte da minha panqueca. Além disso, não ousaria mexer em nada já que a mesa estava tão bonita e tão bem posta. O que não teria nenhuma razão, porque além de ser filha do prefeito, dali alguns minutos as pessoas já teriam arruinado todo o trabalho dos cozinheiros e das pessoas que arrumaram a mesa.
Após algum tempo, muita gente já havia chegado, então logo a comemoração começaria e a lista dos dois tributos escolhidos pregada na parede.
Foi aí que avistei, entrando no Salão, uma cabeça loura, que me lembrava muito alguém.
Corri para abraça-lo, já que não o via há dois dias, graças ao meu treinamento especial com Reedus.
- Oi, minha amorinha. - disse ele, com sua esplêndida voz rouca, me envolvendo num caloroso abraço.
Noah é o meu melhor amigo desde que eu tinha cinco anos. Ele é um ano mais velho e é meu vizinho na Aldeia dos Vitoriosos. Na Academia ele está no mesmo nível que eu, ou seja, pulou apenas um nível, o que já está de bom tamanho, já que é até muito difícil de não repetir.
Ele me chama de amorinha, já que entre nossas casas na Aldeia dos Vitoriosos tinha uma amoreira, e todas as tardes eu ia apanhar algumas, enquanto isso, ele ficava me observando. Era como um ciclo, todas as tardes eu ia apanhar as amoras e ele ficava sempre na espreita. Até que um dia eu me machuquei, e foi ele quem foi me socorrer. Então ficamos bem amigos, mas foi difícil continuar apanhando as amoras quando começamos a frequentar a escola e a Academia, o bom é que isso só fortaleceu nossa relação, pois começamos a fazer tudo juntos.
- Oi. – respondi.
- Muito nervosa?
- Nervosa?
- É... sabe, você sempre quis ir para os Jogos.
- Todo ano você fala a mesma coisa e todo o ano eu não sou a escolhida. Então por que estaria?
- Não sei, Lottie me contou que ficou treinando até tarde ontem.
- É, sempre faço isso.
- Mas ela me disse que você estava muito irritada hoje de manhã, brigando com todo mundo.
- Brigando com todo mundo? Até parece, só briguei com a Mia! Depois eu vou ter uma conversa séria com essa pirralha!
- Viu?! Era disso que ela estava falando.
- Falando do que, Noah?
- Nunca tinha visto você xingar a sua irmã na vida, vocês são muito ligadas, e você acabou de chamá-la de pirralha.
- Que saco! Sabe por que estou irritada? Porque todo ano é a mesma porcaria, eu sempre me esforço ao máximo, acabo com todos do meu nível nos treinos, tiro notas altíssimas de 11 a 12, sempre fico esperando ser a escolhida, tenho sempre esperanças de ir para os Jogos. Eu cansei! Simplesmente cansei! – gritei. - Eu não estou nem aí, mesmo que meu nível não seja o escolhido esse ano, eu vou me voluntariar. Não posso mais esperar. Você não entende.
- Calma...
- Não dá!
Estava irritada, queria atirar uma flecha em alguém, mas aí, vi a multidão começando a se aquietar e virar-se para o quadro de escolhidos. Senhora Farah estava a ponto de colocar a lista. A tão esperada lista.
Não dei tchau para Noah, simplesmente segui irritada. As pessoas se espremiam para conseguir ver os nomes. Mais ou menos uns duzentos jovens desesperados tentando chegar o mais rápido possível à lista. Eu estava ficando para trás, não conseguia me locomover, eu ainda estava longe.
Algum tempo depois, enquanto tentava me infiltrar no meio da multidão, o bando de pessoas para ver a lista estava começando a diminuir, algumas pessoas começaram a voltar, decepcionadas, como sempre. Vi Mia, minha irmã, no meio da multidão, voltando muito irritada, esbarrando em todos e fazendo o possível para deixar o máximo de pessoas feridas. Isso só podia significar uma coisa: Ela não havia conseguido! Era seu último ano, e não havia conseguido. Isso era um mérito muito grande para mim, por três razões. A primeira é que provavelmente seria a única na nossa família que não teria sido escolhida para ir aos Jogos. Segunda, ela nunca mais poderia se achar melhor do que ninguém, porque agora, não tendo sido a escolhida, ela realmente não era. Terceira, essa era minha chance! Minha chance de ir para os Jogos, já que minha maior ameaça, já tinha sido aniquilada.
É claro, não calculei bem os fatos, tinham muitas meninas boas o suficiente para roubar minha chance que ainda não tinha visto voltarem tristes. Mas, quem sabe.
Quando finalmente cheguei até a lista, tremi de emoção. Era o que eu esperava. Estava escrito: “Serena Gold, 16, selecionada por: Habilidades incríveis em luta corporal, escalagem, furtividade e perícia com arco-e-flecha”.
Tudo que eu sempre esperei na minha vida se resumia em duas palavras: Serena Gold. Essas duas palavras eram as que representavam o aluno feminino que se voluntariaria esse ano, ou seja, eu!
Olhei para os lados, as pessoas me encaravam, mas eu não me importava, estava feliz demais para me importar. Até que li o nome que estava embaixo do meu, uma coisa que acabou com a minha felicidade, que mudou completamente minha expressão. Fui de feliz, para horrorizada. “E agora?”
Cap...
“Como não pensei nisso antes?” “Como pude ser tão estupida?” Nesse tempo todo só me preocupei comigo mesma, mais ninguém. Nem sonhei que isso fosse acontecer, isso nunca havia passado pela minha mente. O tal nome, o nome que deixou-me aterrorizada, com medo, confusa era nada mais nada menos do que o do meu melhor amigo: Noah Elody.
Ele era tão capaz quanto eu, tão forte, aplicado e de um potencial extremo. “Como pude não lembrar-me desse detalhe?” Há alguns minutos eu queria atirar uma flecha em alguém, sinto que esse alguém agora deveria ser eu. “O que vou fazer?” “Devo desistir?” “Não, foco, Serena, você não pode desistir. Isso é uma chance única, você não pode perdê-la. Você chegou tão longe, não pode simplesmente jogar tudo que você construiu pelos ares. Se eu precisar machucar alguém que eu ame para cumprir meus objetivos, eu vou. Mesmo que essa pessoa seja o meu melhor amigo, a pessoa que mais me ama e melhor me compreende”.
Vejo então, a pessoa que acaba de ser responsável pelo abalamento emocional que poderia me matar vindo em minha direção.
- Serena! – gritou ele, de longe, se espremendo no meio da multidão para chegar o mais rápido possível.
Eu estava imóvel, incapaz de me locomover, eu não sentia mais a presença das pessoas ao meu redor. Estava tudo um breu. Só conseguia enxergar Noah, atropelando todos e correndo em minha direção. 
Ele chega cada vez mais perto, até que surge na minha frente e me dá uma grande sacudida, que devolve meus sentidos e me faz voltar ao mundo.
- Serena, está tudo bem? Está pálida. – ele disse, em um tom preocupado.
- Nós dois fomos os escolhidos.
- Eu sei, eu sei, mas vai ficar tudo bem.
- Não, Noah, você não entende? Não vai ficar tudo bem!
Por alguns segundos, ouvi apenas o barulho das centenas de pessoas conversando. Noah permaneceu calado, me encarando com aqueles grandes olhos azuis que me intoxicavam ainda mais.
- Serena... Por favor, escute com calma, não comente até eu terminar de falar.
- Você está mandando em mim? Quem pensa que é?
- Não estou mandando em você, estou te dando um conselho. Não quer que fique tudo bem? Então me ouça. – disse ele, num tom direto – Não se voluntarie esse ano...
- O que? Viu, está mandando em mim de novo... – o interrompi, mas logo fui cortada.
- Apenas deixe eu terminar de falar! Não é seguro na arena, nem para você e nem para mim. É o seu sonho, mas não podemos ir juntos.
- Então não vá.
- Não é bem assim que se resolve as coisas.
- Concordo. Mas é exatamente isso que você está fazendo comigo. Eu te suplico Noah, deixe-me ir.
- Não posso.
- Quem você pensa que é, meu pai? Você não manda em mim, como já disse, e outra coisa, eu sou bem grandinha e forte o bastante para acabar com todos na arena e voltar sã e salva para casa, você sabe muito bem.
- Eu sei, mas...
- Mas nada, eu vou e pronto.
- Não podemos ir nós dois.
- Se você não quer isso, não vá.
- Então agora está dizendo que você quer? Que não se importa comigo?! Que me mataria na arena?!
- Eu não disse isso!
- Mas pareceu.
- Esse é o meu sonho, me desculpe, mas não posso perder essa chance.
- Eu também não.
- Por que razões? Você não tem irmãos, seus pais ligam para você, você nem precisa ser vitorioso, sua família não se importa!
- Mas eu me importo.
- E eu me importo com nós dois, então te suplico que não vá.
- Serena...
- Se me você me ama realmente não vá.
- Mas eu tenho que ir.
Como resposta, apenas movimentei a cabeça em sinal de decepção.
- Se você se importasse mesmo então nem pensaria na possibilidade de me matar.
- E eu não penso! Eu morreria por você, Serena.
- Sério? Então me deixe ir.
- Simplesmente não posso.
- Grande amigo você.
- Serena, eu te amo, mas...
- Quer saber?! Quer ir?! Então vá. Vá. Pode ir, eu não me importo. Daqui a alguns dias seremos como qualquer outro na arena, inimigos. Eu não te protegerei, e nem você a mim. Na arena, o mais capaz vence.
Apenas saí, nem sequer olhei para trás. Eu menti, realmente me importava com ele, com nós. Mas não aguentaria ver mais nenhum segundo aqueles grandes olhos azuis me encarando e quebrando meu coração em múltiplos pedaços.
Capítulo 5 – A Praça Principal
Me dirigi a Praça Principal sozinha, minha cabeça ainda girava por ter de processar tantas informações ao mesmo tempo. Eu andava com postura, como se nada tivesse acontecido, mas devo admitir, estava furiosa. As pessoas ainda me encaravam, algumas até sussurravam. Eu não gostava disso, realmente me incomodava.
- Sim, eu fui a escolhida! Surpresas?! Que pena! Vocês são um bando de coitadas, isso sim, por não conseguirem ser tão boas quanto eu! – disse a um grupo de garotas inocentes, que apenas sussurravam, o que me irritava mais ainda.
Segui em frente, até a fila em que as amostras de sangue eram coletadas. Após uma mulher espetar uma agulha no meu dedo, como de costume, fui instruída a seguir até a parte onde os jovens da minha idade ficavam.
Logo um homem baixinho e careca, meio manco, rumou até mim e me dirigiu para um lugar bem perto do palco, para que pudesse me voluntariar. Uma pena, isso só me daria a chance de ver os detalhes desprezíveis da roupa da mulher da capital ainda melhor. 
A mesma acabara de chegar e dar dois toques com seu dedo indicador no microfone para testá-lo, como de costume.
Era a mesma de todos os anos, com o cabelo verde, a maquiagem exagerada e as roupas extravagantes e muito coloridas.
– Silêncio, silêncio - pigarreou - Bem-vindos a Vigésima Sétima Edição dos Jogos Vorazes! Bom, antes de começar eu trouxe um filminho vindo lá da Capital, espero que gostem. – terminou ela, com sua voz fina de ensurdecer os ouvidos.
O telão da praça foi ligado e o mesmo filme tedioso de todos os anos sobre os dias escuros e a rebelião que deu origem aos Jogos foi passado. Um filme ridículo, com certeza. Por mais que meu sonho fosse ir para os Jogos, adoraria fazer uma rebelião e provar para a Capital que somos tão fortes quanto ela.
– Então... agora chegou o momento de selecionarmos os nossos jovens sortudos que terão a honra de representar o Distrito 1 e mostrar a sua bravura nesta edição dos Jogos Vorazes! Como sempre, as damas primeiro! - A mulher se dirigiu a urna feminina. Sua mão ia de um lado para o outro, procurando um bilhetinho escondido entre os lados.
- E o tributo feminino deste ano será... - Ela pausou por alguns segundos, para poder ler o tal nome. - Felicia Reblus.
- Não. Serei eu! Eu me voluntario! – a interrompi, praticamente gritando.
- Nossa... quanta empolgação! – ela respondeu, dirigindo seu olhar a mim e dando finas risadinhas. – Tudo bem, suba aqui então. E... qual o seu nome, querida?
- Serena, Serena Gold. – respondo, subindo rapidamente os largos degraus.
- Excelente, fique ai mesmo, querida. – disse ela, apontando para o chão. - E o tributo masculino deste ano será... – Uma voz a interrompeu. Era Noah, se voluntariando. Ele parecia deprimido, pelo menos era isso que sua expressão sua voz mostravam. Rapidamente ele subiu ao palco, sem dizer uma única palavra e sem olhar para lugar algum.
Essa cena me deprimiu profundamente. Minha garganta começou a se fechar e finas gotas de água surgiram no meu rosto. “Não, você não pode chorar. Seja forte, como uma verdadeira carreirista. Você não tem pena dele, uma hora ou outra você terá de matá-lo se quiser sobreviver.”
Não ousei olhar para ele, nem por um segundo. Isso faria parecer que me importava com ele, e na verdade, me importava, mas eu não podia mostrar isso, não podia deixar que ninguém soubesse. Com meu punho, limpei meu rosto, fazendo as estúpidas gotas que escorreram desaparecerem.
- E esses são os dois tributos que terão a honra de representar o Distrito 1 na vigésima sétima edição dos Jogos Vorazes! – Falou a mulher da capital, empolgada, erguendo nossas mãos ao alto, como se fossemos vitoriosos.
As pessoas aplaudiam freneticamente, isso me fez ficar orgulhosa, já que depois de tanto tempo de espera eu finalmente realizaria meu sonho, mas logo me lembrei de que daqui a alguns dias talvez tivesse de desistir de tudo isso e do mais importante, meu melhor amigo ou até mesmo a minha própria vida.
Alguns pacificadores nos conduziram até uma sala no Edifício da Justiça. Era lá onde parentes e amigos vinham para se despedir. Era uma sala luxuosa, com tapetes persas e uma poltrona de tecido vermelho com os pés banhados a ouro.
Lottie foi a primeira que apareceu, suplicando para que não matasse Noah, mas que desse um jeito de vencer os jogos. Como se isso fosse possível. Papai foi o segundo, apenas para dar boa sorte e confiança, confirmando que eu tinha que ser forte, que tinha que vencer, que tinha que ser a melhor, como uma verdadeira carreirista. Como se alguém ainda tivesse dúvidas. Kaiden não apareceu, provavelmente estava ocupado com seus sumiços diários. Reedus foi o próximo. Me deu parabéns eufóricos e abraços calorosos, seguidos pelos pêsames da companhia e a ordem de vencer. A última visita foi a que mais me surpreendeu. Quem veio foi nada mais nada menos do que minha irmã,  Mia.
- Vença. – disse ela.
- Eu vou. – respondi confirmando com a cabeça.
- Olha... me... me desculpa por ter sido tão grossa, tão estúpida. Olha... nós duas somos boas, não precisamos ficar brigando. Além disso, se você vencer já vai ter ganhado de mim, esfregado tudo na minha cara. Eu nunca fui a escolhida, isso é uma desonra, uma baita desonra para a nossa família. Papai vai brigar tanto comigo, estou ferrada. – E como estava. - Mas ei, escute, eu não estou prometendo ser legal com você quando voltar, só estou me desculpando pelas coisas que fiz até aqui e que te magoaram, tudo bem? – devolvi com um sorriso. É claro que não seria, mas pelo menos estar se desculpando já era o bastante. - De verdade, por mais que não demonstre, eu me importo com você, afinal, sou sua irmã. Vença, só isso que posso te dizer.
Foi aí, que, nos abraçamos. Claro, isso nunca mais aconteceria. Nunca, e isso era meio que uma promessa dela. Mas enquanto durasse, seria o nosso melhor momento desde que nossa mãe morreu, então valia a pena.
- Está na hora, saia. – disse um pacificador, invadindo o quarto e arrastando Mia para fora da sala.
Provavelmente eu tinha acabado de ver a cena mais rara do mundo, em que Mia mostrou ter afeto por mim. Não espero nada quando voltar, nem abraço, nem sorriso, apenas estou feliz, por enquanto.
Capitulo 6 – O trem
A mulher de cabelo verde da Capital logo nos levou para um carro. Eu ainda não tinha me autorizado a olhar para Noah ou dizer algo a ele. Acho que se ele não viesse falar comigo alguma hora, provavelmente nunca mais nos falaríamos. Não sou do tipo que pede desculpas, mesmo que esteja errada.
Nosso tempo no carro foi longo, ainda mais por ter que ouvir a mulher da Capital falando, mas como era chata essa esverdeada! A viagem inteira tagarelando sobre sua vida luxuosa na Capital.
- Cala a boca! – Exclamei irritada. Vinte e cinco minutos haviam se passado e já estávamos chegando na estação de trem, mas não aguentaria mais nenhum segundo daquela voz fina e irritante.
- Mas que insulto! – Disse a mulher, espantada, e logo se calou.
Finalmente chegamos à estação de trem. A mulher da Capital ainda me olhava feio. É verdade, tinha sido meio grossa, mas estava irritada, confusa e triste e ela ainda queria me fazer ouvir suas besteiras sobre a Capital? Me poupe!
 Entramos na estação e palmas e mais palmas ecoaram. Várias pessoas gritando e aplaudindo, isso me proporcionou uma grande autoestima momentânea.
Logo senti algo pontudo em minhas costelas, era a “esverdeada” cutucando minhas costas com sua caneta de ouro para eu ficar ereta. Então ergui as costas, acenei para o pessoal e saí andando em direção ao trem.
O trem era realmente muito grande e luxuoso, até mais do que eu tinha imaginado. A primeira coisa em que reparei foram os móveis, que eram muito chiques, e depois, as comidas, que eram diferentes e de vários tipos. Ótimo, estava morrendo de fome! Não comia desde o café da manhã.
Sentei-me em uma das várias poltronas de couro do vagão principal para olhar a vista e saborear minha sobremesa. Noah estava sentado do outro lado do compartimento. Ele olhava fixamente para a paisagem que surgia fora da janela, estávamos em um arredor de florestas, provavelmente que dividiam a Capital do nosso distrito.
Eu o olhava sem medo, afinal, ele não poderia saber já que estava olhando para o outro lado.
Eu estava aflita, sentia receio, remorso, pena e tristeza. Deveria me desculpar com ele. Não fui legal, fui uma grosseira, isso sim. Minhas palavras poderiam machucar mais do que qualquer morte. Afinal, você morre e pronto, o seu sofrimento acaba, mas quando você é magoado com palavras, o sofrimento só aumenta.
Então ele se virou, tirando os olhos da paisagem verde e os colocando sobre mim. Por alguns segundos ele me encarou, e isso me arrepiou o corpo inteiro. Ele logo tirou os olhos de mim, olhando para baixo e mostrando sua feição chateada. Ele provavelmente não aguentava mais olhar para mim, esse monstro sujo. Ele provavelmente nunca mais iria falar comigo, provavelmente não teria pena de mim e faria o possível para me matar na arena. Ele se levantou e saiu andando em direção a outro compartimento.
- Não, espere, Noah. – o puxei pelo braço, impedindo-o de seguir em frente.
Ele recomeçou a me encarar, novamente sem dizer uma única palavra, provavelmente explodindo por dentro, mas tentando não dar sinais. Seu silêncio me quebrava, então dei um suspiro grande e continuei.
- Me desculpe, me desculpe por tudo. Pelos meus atos, pelas minhas palavras. Por tudo, tudo que te magoou. Eu te amo, você é meu melhor amigo, e sei que uma hora ou outra um de nós estará morto, ou até pior, ambos. Mas nossa amizade ainda pode durar, até que a última gota de vida dentro de nossos corpos desapareça. Nós podemos fazer durar, aproveitar cada segundo juntos. Nada poderá nos separar. Eu digo, nada além da morte.
Seu corpo colou ao meu, num abraço forte e duradouro. Ele não queria me soltar, e muito menos, eu a ele.
 Sou do tipo de pessoa que prefere uma resposta física, que demonstre de verdade o que a pessoa está sentindo, do que míseras palavras mentirosas que podem estar manifestando uma ideia totalmente contrária do que a pessoa realmente sente.
- Tudo bem, amorinha. Eu sei que você não fez por mal, afinal, estamos muito confusos, cansados e abalados. E eu também não ajudei, eu fui grosso, não queria te deixar ir, pensei apenas em mim mesmo. Esse é o meu sonho, mas mais do que isso, é o seu. Ficaremos juntos até o final, como você disse. - Noah disse, me dando um beijo na bochecha.
Logo, um homem de porte grande, muito alto e musculoso surgiu na nossa frente. Ele tinha o cabelo castanho claro e os olhos verdes. Estava em torno dos 35 anos.
- Olá senhorita Gold, olá Noah. - disse ele, sentando na poltrona a nossa frente e quase não cabendo nela.
- Nossa, você é desproporcional, nem cabe na poltrona! - exclamei, sem me dar conta do insulto.
- E você não foi muito bem educada, sabia?! - ele revidou. Apenas franzi a testa e olhei para baixo, como se não ligasse para o que dizia. – Vamos recomeçar, meu nome é George Coora, seu mentor. E se vocês pensam que vai ser tão fácil arranjar patrocinadores só porque são carreiristas, estão muito enganados. Vocês têm que aprender a serem gentis! Vocês acham que alguém vai pagar por alguém sem classe, como os do 12? Então não tem a mínima ideia do que isso se trata, bom dia. – e saiu irritado, batendo as pernas desproporcionais pelo chão do trem, que fazia com que a mesa de comidas balançasse com seu enorme peso.
- Espera aí, se é nosso mentor, tem de nos instruir, não é?! 
- Ah, e agora precisam de mim, é? Depois de serem tão mal educados? – pelo jeito, o homem não gostava que brincassem com o tamanho de seu corpo.
- E você se importa? Querido, acorda, isso é o Distrito 1! – exclamei.
- Não, acorda você, isso são os Jogos Vorazes! – respondeu um George irritado. 
- Por isso mesmo, você tem de instruir a gente! – disse Noah.
- Tá bom. - ele cedeu. - Primeiramente, não fiquei muito contente com a colheita de vocês. O que aconteceu? Vocês nem se olhavam! Se quiserem ganhar patrocinadores, vocês precisam mostrar que têm uma ótima relação. - Lá vem ele falando sobre os patrocinadores. Quem liga para eles? Não precisamos de míseros patrocinadores que apenas mandarão pão para a gente. Nós controlaremos a cornucópia, a arena, todos os pequenos e vulneráveis tributos, não precisaremos de pão! - Bom, quais são suas habilidades? Começando por você, senhorita insulto.
- Que engraçadinho, não? - admito que não havia gostado nem um pouquinho.
- Pelo menos eu sou sensata, e vou continuar sem nenhum tal "insulto". - O encarei de forma ingrata. - Bom... tenho perícia com arco-e-flecha, mas também tenho uma esplêndida rapidez, escalo muito bem, sou ótima em combate corporal, e algumas outras coisas que ainda podemos descobrir. - terminei com uma voz irônica.
- E você, Noah?
- Força física, combate corporal, resistência, saltos e perícia com adagas. 
- Bom, pelo menos vocês foram bem treinados. Recebi o currículo de vocês da Academia, estou impressionado. Notas de 10 a 12 e até níveis pulados. Estão de parabéns por suas habilidades, mas o que importa mesmo é a arena.
Sorri para Noah, orgulhosa.
- Agora vamos falar sobre suas expectativas na arena e no centro de treinamento. Primeiro, montem alianças com pessoas dos distritos carreiristas, 2 e 4. Nada de se aliarem a distritos não carreiristas, apenas se o tal tributo for muito bom, de habilidades extremas. Lembrem-se, suas vidas dependem de suas alianças! – Óbvio, por que faria aliança com alguém fraco? Para perder os jogos? Não, eu não penso assim. – Segundo, consigam patrocinadores urgentemente e primeiramente de tudo. Eles que farão você sobreviver quando estiverem em casos muito graves. – Casos graves? Estou aqui para vencer, não para depender de um patrocinador inútil! – Terceiro, não tenham piedade! Matem quem for, seus aliados, amigos, tributos mais novos... qualquer um! Vocês estão aqui para vencer, para voltar para casa! Matem mesmo aqueles que pedem um pouco de piedade! Não tenham medo de nada, afinal, são carreiristas! – Por que teria medo de sujar as mãos com um pouco de sangue? É claro... tirando o fato de que meu melhor amigo está indo para a arena comigo. Será que despois de sujar as mãos com o sangue dos outros tributos, sujaria com o sangue do meu melhor amigo? Não, eu acho que não. Isso é o que mais me faz pensar na morte, seria ela bem vinda? – Então agora vamos assistir às colheitas deste ano para vocês conhecerem melhor com quem estão lidando.
 Começou reproduzindo nossa colheita, e realmente, eu e Noah nem hesitávamos em nos olhar. Mas pelo menos eu expressei uma imagem bem legal, corajosa e determinada.
Então passou para a colheita do 2, onde uma menina de olhos azuis hipnotizantes e cabelos negros e bem lisos se voluntariou. Logo subiu ao palco um garoto bonito, loiro, magro e bem alto. Eles pareciam ser como eu e Noah, fortes e perigosos. Também prestei bastante atenção nos do 4, já que eram os dois distritos mais possíveis de nos aliarmos. Uma garota ruiva, com os cabelos na cintura foi a sorteada, ela parecia ser bem inofensiva, pelo jeito como olhava para a plateia, assustada. Ninguém se voluntariou por ela. Já o tributo masculino era um garoto moreno, com olhos castanhos, que poderia até ser uma ameaça por causa de sua estrutura forte e conservada.
Enquanto a colheita do distrito nove estava sendo reproduzida, um ruído agudo soou em meus ouvidos. Era a “esverdeada”, com seu sininho, a fim de anunciar o jantar.
- Jantar! – Exclamou ela com sua voz fina e irritante.
- Calma, Madd, já estamos indo. – Respondeu George, com os olhos vidrados na tela.
- Madd? – Indaguei, confusa.
- É... Madd, de Maddox, Maddox Greepick. Mas você é tão mal educada que nem perguntou meu nome!
Ah, então esse é o nome dela, Maddox Greepick! Mesmo assim, ainda prefiro Esverdeada. 
- Vão logo se arrumar! A comida será servida daqui a pouquinho! - Ela continuou.
- Espera um pouco, Madd! – Disse George, irritado. 
- Não espero mais nenhum minuto! – Respondeu a Esverdeada, desligando a televisão no ato. – Vão se arrumar!
Fui para o meu quarto, que era o último do vagão, e por sinal, enorme.
Decidi tomar um banho bem quente, pois o trem estava congelante, o ar condicionado devia estar ligado no mais frio possível. 
Depois do banho, abri o armário, onde tinham várias roupas legais. Optei por vestir um vestido de paetês amarelo, um blazer azul e umas sapatilhas pretas.
Cheguei ao vagão onde a mesa estava posta, e todos me esperando, por mais que eu não acredite, todos falam que eu demoro demais para me arrumar.
- Ai está ela, finalmente, querida! – Exclamou Maddox. – Mas que vestido curto! Tenho que te ensinar algumas técnicas de vestuário da Capital! 
A encarei de forma séria, erguendo a sobrancelha, como se dissesse: “Você não vai fazer isso comigo!’’, provavelmente impressionada com minha falta de educação, ela logo se calou. 
A mesa estava posta com vários tipos diferentes de comida, tinha lagosta, sopa de aspargos, pato com laranjas, ravióli de abóbora e uma salada gigante.
Pus só um pouquinho no meu prato, eu realmente não sentia muita fome, quase nunca.
- Vai comer só isso? Assim vai desmaiar! – Falou George, espantado, quase gritando. – E não vai ter forças na arena e vai morrer! 
Ele não entendia, eu já estava acostumada, nunca fui de comer muito e mesmo assim tinha forças para gastar todas as minhas energias nos treinos da Academia. Então não iria morrer na arena só porque eu não comi direito. 
Só de raiva, peguei uma colher e brutalmente, meti a maior lagosta no meu prato, produzindo um enorme estrondo.
- Acalme-se! Ai, acho que vou ter que dar uma aula de boas maneiras para esta menina! – Exclamou Maddox, pondo a mão no rosto e lamentando-se.
Saí furiosa, empurrando a cadeira para trás e jogando o guardanapo de pano com força na mesa. 
Me dirigi ao meu quarto, tirei a roupa violentamente e vesti um pijama largo que tinha achado no fundo do armário. Pulei na cama e me cobri com o edredom mais grosso, pois o ar condicionado continuava quase congelando o trem.
Depois de horas em baixo das cobertas, quando todos provavelmente já estariam no sono mais profundo, percebi que não iria mais conseguir dormir, então fui até o vagão principal.
Parecia ser tarde, acho que havia ficado umas três ou quatro horas no quarto, pensando. Sentei perto do parapeito da janela e fiquei olhando para fora, com a expectativa de encontrar a Capital antes do amanhecer. Infelizmente, estava cansada demais, então não consegui ficar acordada para realizar tal proeza e acabei adormecendo.
Acordei num bocejo gigantesco, o calor da manhã já aquecia meu corpo e minhas costas doíam por causa do desconforto que havia passado por dormir na janela.
Noah estava na poltrona ao meu lado, a mesa do café da manhã já estava posta e Maddox e George já estavam comendo. Olhei para fora e percebi que havíamos acabado de chegar à Capital.
Era enorme, chique, mecanizada e luxuosa, até mais do que eu esperava. Eu já estava acostumada com a luxúria, morava no Distrito 1, o mais luxuoso de todos, e além disso, meu pai era o prefeito de lá. Mas mesmo assim, nunca tinha visto algo como isso.
Abri a minha boca de surpresa e olhei para Noah.
- Como é grande não? – Ele falou. 
Não só grande, ela era linda, maravilhosa.
Rodeamos vários lugares até chegarmos à estação. Tudo tão lindo, um sonho. Quando o trem já passava nos trilhos da estação, algumas pessoas já esfregavam as caras no vidro para nos ver. Todos eufóricos, gritando de alegria. “O que tem demais com cada tributo? Não somos celebridades, somos assassinos, e às vezes até presas. Logo viraremos defuntos, e... ninguém gosta de defuntos.” Pensei.
Capítulo 7 – O Desfile
Saí do trem muito honrada, de mãos dadas com Noah e acenando intermitentemente para a plateia, ele fazia o mesmo. Pediram para darmos passos mais longos, andarmos mais rápido. Por mim, ficaria a tarde toda na estação para que as pessoas pudessem me contemplar até cansarem. Infelizmente, eu e Noah logo fomos separados e fui levada a um centro de preparação exclusivo para os tributos.
Maddox falava efusivamente sobre como eu ficaria linda, sem nenhuma imperfeição, que eles tirariam até o mais fino pelinho e que quando saísse de lá estaria irreconhecível. Disse também que havia pedido para “eles” que me colorissem ao máximo, me deixassem parecidíssima como uma verdadeira residente da Capital. Isso eu não queria, era certo. Não queria parecer um palhaço, como ela e todos os outros moradores daqui se pareciam.
Quando cheguei ao centro de preparação, fui colocada numa maca e despida, logo, três pessoas esquisitas, típicas da Capital, começaram a me depilar em todos os lugares possíveis do corpo - alguns, que eu nem sabia que se depilavam - me dar múltiplos banhos, hidratar minha pele, fazer minha sobrancelha, cortar as pontas do meu cabelo e arrumar meu corpo e suas possíveis imperfeições, tudo sem uma única palavra e sem eu dar permissão alguma. Me sentia constrangida, não sabia que teria de ficar nua na frente de pessoas da Capital que eu nem conhecia.
- Acho que está perfeita! – Disse o único homem, muito afeminado, magro, alto com o cabelo azul-metálico arrumado em um topete, maquiagem dourada e várias tatuagens coloridas ao longo do corpo.
- Não, você se esqueceu de tirar a monocelha, esperto! – Reclamou a mulher ao seu lado, irritada. Ela era tão estranha quanto o homem, mas com o cabelo branco em corte chanel e as pupilas roxas.
- Não esqueci não, não sou tão incompetente quanto você acha! – Resmungou o homem, indignado.
- Ai, me dá isso! – Respondeu a mulher, arrancando a pinça da mão do homem e retirando um único pelinho. – Pronto, agora sim.
 - Grande coisa! – Deu a mulher gorda do outro lado da maca, com o cabelo preto e mechas coloridas no cabelo, a sua primeira palavra.
- Querida, ela tem que estar perfeita. Sabe o que significa perfeita? Significa: Sem nenhum pelinho! – Respondeu a outra mulher, irritada. – Agora sim podemos passá-la para Kaff. – Kaff, quem é Kaff? Ou será que ela disse café? Vão me dar banho de café? E o trio saiu da sala, sem nem mesmo dar um tchau.
Logo um homem com os cabelos negros, compridos até os ombros e a pele muito branca apareceu. Ele sim era estranho, estranho para um morador da Capital, como seu cabelo não era colorido?    
- Olá Senhorita Gold, me chamo Kaff e serei o seu estilista durante sua estadia na Capital. – Ele era um homem robusto, com a maquiagem prateada. – Minha missão é te deixar a mais perfeita e desejada tributa desta edição. Eu já preparei seu look, espero que goste.
 Ele tirou do saco que estava pendurado na cadeira à minha frente uma roupa preta, toda interligada por uma renda de flores, com um fio transparente que fazia algumas partes do corpo, principalmente do braço e da barriga não estivessem cobertos. Era como se a roupa quisesse cobrir apenas os lugares mais importantes, as partes íntimas. Era até vulgar, mas lindo. Estava pronta para ser alvo de grande atenção.
- É lindo... – Falei entusiasmada.
Ele falou para que me vestisse rápido, o que foi difícil, pois não fazia a menor ideia de como se colocava aquilo. Depois de muito esforço, saí do provador toda suada, mas vestida. A roupa aperfeiçoava minhas curvas, deixava algumas partes de fora, mas o importante cobria. Kaff optou por não me emperiquitar mais, já que a roupa já falava por si só, decidindo então em colocar nada mais do que apenas uma tiara de diamantes, que simbolizava a vitória. Ele fez um coque alto em mim, puxando com bastante gel, para que nenhum fio caísse sobre o meu rosto. Tinha ficado legal, o cabelo começava escuro por causa do gel e logo viravam lindos e claros fios dourados.
Kaff fez uma maquiagem simples em mim, misturando tons de marrom, cinza e preto, o que destacava ainda mais meus olhos azuis. O pessoal queria realmente me fazer parecer sexy, desejada. Quanto mais bonita você é, mais eles querem te deixar viva. - Foi isso o que me disseram - Por isso, aposte forte na beleza e volte para casa são e salvo.
- Você está linda – Kaff disse, me olhando de cima a baixo, orgulhoso por seu trabalho. – Agora dê uma giradinha – ele pegou levemente em minha mão e a girou. – Isso mesmo – ele sorriu. – Agora pode ir.
Saí do quarto e logo dei de cara com Noah – que por sinal estava maravilhoso. Vestido com um macacão preto e colado, com textura de pele de cobra, pedrinhas de diamante por ele todo, longos cortes do ombro até os punhos bem no meio das mangas, ombreiras com franjas, largas pulseiras de couro e uma linda coroa almofadada, também de diamantes.
- Estava indo te encontrar – ele disse.
- Digo o mesmo – respondi dando leves risadas.
- Você está... linda.
- Olhe para você, então.
- Até parece.
- Sério, Noah, você está maravilhoso.
Então algo que eu não esperava aconteceu: Ele veio cada vez mais perto ao meu encontro, não sei o que isso significava – talvez um beijo? – por que céus ele iria querer me beijar? Éramos só amigos. Era o que eu achava, até agora.
Sua boca estava quase colada a minha, quando... Maddox apareceu.
- Aí estão vocês! – Ela disse. – Venham logo, estão todos os esperando!
Noah e eu nos encaramos. Ainda não sabia muito bem o que tinha acontecido, muito menos como lidar com isso, então, simplesmente, soltei involuntariamente a gargalhada mais estranha que alguém já pode ter dado na vida.
Saí rapidamente, dando passos longos para que ele não pudesse me alcançar. “O que foi isso?!” “O que você estava tentando fazer? Imitar um macaco?!” “Não, Serena, nem foi tão ruim assim...” “Claro que foi”. – Briguei com a minha consciência.
Caminhei até o pátio onde estavam as carruagens, tentando não tropeçar na barra – ou devo dizer, calda – da minha roupa. A nossa era a primeira carruagem, então tive que caminhar bastante, até o final, onde o enorme portão estava de cara com a minha face e eu podia ouvir a euforia da multidão.
Subi rapidamente na carruagem, um moço havia me oferecido ajuda, mas ainda estava meio envergonhada pelo incidente com Noah, e recusei a oferta na hora, soando até meio grossa.
Noah vinha logo atrás de mim, ele andava depressa, com uma cara preocupada.
- Está tudo bem?! – Ele disse, subindo na carruagem e aceitando gentilmente a ajuda do homem.
- Tudo ótimo, vamos, vamos, sobe logo – digo apressada.
- Mas não parece que está tudo bem.
- Claro que está, agora me dê a mão e sorria.
- Serena...
- Quieto! Aja normalmente!
Não sei o que era pior, o fato de o meu melhor amigo ter tentado me beijar ou o fato de eu ter passado a maior vergonha da minha vida. Mas não era só por causa disso que eu teria que desmoronar, eu iria agir normalmente, como a verdadeira Serena. Isso tudo tinha de ser recompensado, recompensado com uma ótima apresentação para a Capital. Não poderia parecer uma idiota na frente de todas aquelas pessoas. Depois do desfile não poderia mais ter vergonha, teria de estar honrada.
O enorme portão foi aberto, dei minha última arrumada na roupa e a carruagem seguiu em frente.
O pátio era enorme, demoraria um bom tempo para que todas as carruagens passassem por lá. Aquilo tudo parecia até carnaval. Várias coisas caiam sobre nós, flores, chapéus, confetes e serpentinas.  As pessoas na arquibancada gritavam e aplaudiam fanaticamente. Podia ouvir nossos nomes soarem no meio do barulho. O meu e de Noah. Também gritavam os nomes de alguns outros tributos – que não fazia a menor ideia de quem eram, mas presumia que fossem também de distritos carreiristas – mas os nossos podiam ser ouvidos de longe.
Os telões davam zoom em mim e Noah. Estávamos segurando a mão um do outro, erguidas ao alto, como se fossemos vitoriosos. Toda aquela euforia me dava uma grande emoção e eu parecia que tinha fogos de artifício dentro de mim que cada vez explodiam mais forte.
Nossas carruagens pararam no meio do perímetro. Avistei as pequenas cabeças se esvaindo de minha vista e logo o Presidente Harris surgiu na arquibancada do meio, bem no alto. Ele balançava as mãos para baixo, pedindo silêncio. Depois de alguns segundo, as pessoas finalmente se aquietaram.
- Bem vindos – ele disse, confiante. – Bem vindos, tributos à 27ª edição dos Jogos Vorazes! Saudamos vocês, por sua coragem e seu esforço! E que a sorte esteja sempre ao seu favor!
A multidão gritou de louvor quando o presidente terminou seu pequeno discurso – que na minha opinião, era desnecessário.
Chegamos ao outro lado do pátio, onde nossos estilistas nos esperavam. Eu estava realmente suada e meu coração ainda batia rapidamente por causa da forte adrenalina.
- Vocês foram ótimos! Posso garantir que os melhores! – Disse Kaff. – Nenhum dos trajes dos outros tributos superou os seus! Graças a mim.
- E a mim! – Falou a mulher de cabelos vermelhos cor de sangue, situada ao lado de Maddox, que eu presumia que fosse a estilista de Noah.
- E a nós! – O trio que me “aperfeiçoou” gritou em couro.
- Pelo menos, Serena não vomitou no condutor, como a do ano passado! – Falou a esverdeada, com uma expressão de nojo.
– Nem me lembre disso, Madd, foi um desastre total! – Disse a estilista de Noah.
- Foi mesmo... mas o importante é que esse ano rolou tudo bem! Tudo ótimo! Vocês foram ótimos! Maravilhosos! – Falou a mulher de cabelo branco e olhos rosa-pink, a do trio que me preparou.
- Sim, foram ótimos. E vocês fizeram um trabalho incrível, Dessa e Kaff. – Disse George, encostado num muro e quase o derrubando.
Então esse era o nome da estilista de Noah, Dessa.
- E nós! – Disse o trio novamente em coro.
- E vocês! Como pude me esquecer! – Terminou George, lamentando-se sarcasticamente.
Noah e eu saímos para dar uma volta pelo pátio, observar os trabalhos desastrosos dos outros estilistas que não tivemos a chance de ver pelo telão.
Uma menina me encarava, era a do distrito 2, a com os cabelos negros e os olhos azuis hipnotizantes. Aquilo me incomodava, o que ela queria?
Depois de muito tempo de troca de olhares, ela finalmente veio até mim, confiante, seguida por seu companheiro, também do distrito 2, o lindo moreno dos olhos castanhos.
- Olá – ela disse. – Meu nome é Blister Baggs, e esse é o Matt – ela apontou com a cabeça o tributo ao seu lado, enquanto ele dava um leve sorriso. – Espero que possamos fazer amizade. Posso sentir que vocês são tributos muito competentes, afinal, são carreiristas. É bom fazermos amizade antes de começarmos a treinar. Muitos tributinhos não iriam aguentar se nos vissem atuando juntos logo no primeiro dia. Dar medo nos mais fracos é um bom jeito de começar a ganhar patrocinadores – ela deu um sorriso maléfico. – Bom, já falamos com os do 4. Resumimos que o garoto pode ser bem útil, mas a garota... é uma fracote, isso sim!, já tinha percebido isso quando assisti às colheitas, mas quando fomos falar com eles, só pude fortalecer minha ideia sobre ela. Tão tímida, tão frágil, nem aguentou falar com a gente. Podemos aniquilá-la facilmente no primeiro dia na arena, ou até no banho de sangue. Já temos a permissão de seu companheiro para fazê-lo. – Blister parecia ser muito orgulhosa, mas seria muito útil em me ajudar a ficar no ponto mais alto de sobreviventes. Então, logo que ela realizasse seu serviço, eu a mataria. – E aí, estamos de acordo?
- É claro, podemos nos aliar agora mesmo – respondi. – Bom, meu nome é...
- Serena Gold, e o dele, Noah Elody. – Interrompeu-me Blister. – Vi no telão. É claro que em hipótese alguma poderia não gravar os nomes dos meus queridos futuros aliados. – ela disse, em um tom de superioridade. – E agora, presentes aliados. – Sorriu. – Bom, logo Scott estará aqui.
Quem era Scott? Não fazia a mínima ideia. Mas, logo minhas dúvidas foram apagadas pela chegada do lindo e robusto tributo do distrito 4.
Ele parou em nossa frente, ocupando o único espaço restante e formando um círculo de carreiristas.
- Olá, desculpem-me pelo atraso – ele disse. – Meu nome é Scott, Scott Pillows, sou o tributo do Distrito 4. – ele apertou minha mão e seguidamente, a de Noah. – Blister, as alianças já estão formadas?
- Sim, eu dei um jeito em tudo. Serena e Noah já se juntaram a nós – respondeu ela, com seu toque banal de orgulho.
- Perfeito! Já decidiram o que farão com a Birdie?
- Sim, já que temos sua permissão para aniquilá-la, vamos fazê-lo no banho de sangue, assim, tudo será mais rápido. E claro, quem terá a honra de matá-la serei eu. Todos de acordo? – Ela com certeza se achava melhor do que todos. Agora eu tinha uma vontade imensa de mostrá-la que ela não é. Mas vamos esperar. Sei que ela se renderá a mim no final.
- Sim. – respondeu Noah.
- Sem dúvida. – disse Matt.
- É claro! – Scott falou.
- Pode ser. – Rosnei a encarando de forma mortífera.
Ela me encarou de volta, como se não tivesse gostado. Para quebrar o clima, Noah fala:
- É, quanto menos tributos, melhor.
- Ótimo. – Blister falou, continuando a me encarar, de forma superior.
Ela me lembrava muito Mia, minha irmã. As duas sempre se achando melhores que os outros e falando num tom de superioridade.
Desviei meu olhar dela, como se não ligasse, então percebi que Scott não parava de me olhar. Acho que estava tentando flertar comigo. Ele era muito bonito, pele morena, cabelo loiro e olhos verdes azulados. Mas eu precisava me focar, enquanto estiver na arena, não posso formar laços com nenhum dos outros tributos. Não quero me magoar por ter que matar pessoas que eu gosto. Com exceção de Noah, que desde já não tem jeito e já estou magoada.
- Ah, Serena, desculpe, mas eu não poderia deixar de comentar: Eu adorei seu visual do desfile! Na hora que eu vi vocês dois subindo na carruagem, a única coisa que eu consegui pensar foi “Uau!”. – Exclamou Blister, fingindo se importar, o que estava sendo bem convincente. Mas infelizmente, era tudo encenação.
Ela encarava Noah do mesmo jeito estranho que Scott fazia comigo. Isso me deixava furiosa, aquilo era apenas um joguinho para nos colocar numa armadilha. Além do mais, Noah era meu, apenas meu... quero dizer, meu amigo.
 Então decidi entrar no tal joguinho.
- Obrigada, querida – respondi. – Eu adorei o visual de vocês também... ficou ótimo na versão masculina. - Mordi o lábio e comecei a encarar Matt. Isso a deixou irritada, e pior, deixou Scott irritado. Eu estava no papo. Se continuasse assim, teria pelo menos dois tributos apaixonados por mim, Matt e Scott. E isso era só o começo, nessa edição, eu seria uma ótima flertadora, tanto com o arco, quanto com os homens.
- Então, no que são bons? – Perguntou Blister, irritada, tentando esquecer o fato de eu encarar seu companheiro. - Eu sou ótima em arremesso de facas, sei fazer acrobacias, furtar e escapar de armadilhas facilmente. - Ela achava que comandava o nosso grupinho, para ela, só ela falava, dava opiniões, comentários...
- Eu sou bom com pegadas, sei rastrear muito bem um oponente. Tenho perícia com mangual e sou ótimo em combate desarmado. – Disse Matt.
- Hmm... posso produzir rapidamente redes e armadilhas, tenho movimento rápido, sou um ótimo nadador e tenho perícia com lanças. – Falou Scott.
- Eu tenho uma grande força física, rapidez, resistência, sou ótimo em combate corporal e tenho perícia com adagas. – Disse Noah.
- Eu sei atacar em silêncio, sem que o oponente me veja. Também sou ótima em escalar, combate corporal, sou rápida e tenho perícia com arco e flecha. – Falei.
- Bom, na minha opinião, está tudo perfeito, as habilidades misturadas darão um ótimo grupo. – Comentou Scott.
- Não! Você não vê? – Começou Blister. – Precisamos de alguém que saiba medicina, reconhecimento de plantas!
- Não precisamos não, Blister, está tudo ótimo. Vai ter comida o suficiente na Cornucópia, não precisaremos reconhecer plantas comestíveis. – Protestou Matt.
- E se um de nós se machucar? – Perguntou ela, irritada.
- Então ai, esquece. Deixa a pessoa morrer! – Exclamou ele.
- O que? Você deixaria a gente para trás mesmo, Matt? Comigo não é assim! – Reclamou Blister, irritada. – Quer sair do grupo? Ai pode seguir seu caminho sozinho, e não vai nos ter para te atrapalhar.
- Não, não foi isso que eu quis dizer... – Respondeu ele, e Blister continuava a espera de uma resposta significativa. – Desculpa... eu, eu não devia ter falado isso, me desculpem. Se ajudar... sei que tem uma menina no distrito 5 que é ótima nessas coisas.
- Que menina?! – Perguntou Blister, impaciente.
- Uma tal de... Paris. – Ele respondeu.
- Ah... Paris, a garota do 5. Tudo bem, a chame, ela fará parte do grupo! – Blister ordenou.
- O que? Mas ela nem é carreirista! – Protestou Scott.
- E daí?! Quem se importa?! Ela será muito útil.
- E se ela nos atrapalhar?!
- Se ela nos atrapalhar... – Blister passou o dedo indicador pelo pescoço, produzindo um grunhido. – Como disse, ela será muito útil, útil até a matarmos, esperto. – Era assim mesmo que eu pensava sobre ela, Blister.
- Então tá, mas só essa e mais ninguém! – Ele responde, desconfiado.
- Como você disse, só essa e mais ninguém. – Ela sorri para ele, tentando passar uma imagem de amiga. O que com certeza, no fundo ela não era.
– Então está decidido, ela fica. Continuamos amanhã, no Centro de Treinamento, boa noite. – Terminou Matt, desmanchando o círculo e rumando para um elevador.
Eu e Noah fomos ao encontro de nossos acompanhantes e estilistas e também nos dirigimos ao elevador. O nosso andar era o primeiro. O alojamento era tão grande quanto o trem, até maior. Muito maior.
- Vão tomar banho e se arrumar, o jantar sairá rapidinho! – Maddox disse, se dirigindo para seu quarto.
 Me dirigi ao meu quarto, ele era demasiadamente grande, sem comparações com a pequena cabine do trem – que até agora poderia ser considerada grande.
Sentei na cama e descansei meu corpo por alguns segundos, sem nem mesmo fechar os olhos. Com dificuldade – por causa das minhas costas, que ainda doíam em questão da minha noite nada confortável no trem – levantei-me e fui até o banheiro.
Foi difícil tirar a roupa e não estava de bom humor, então nem liguei e tirei o traje de uma forma bruta, fazendo pequenos rasgos em algumas partes.
Tomei um banho, tirando todos os restos de maquiagem aplicados em mim. Vesti um pijama confortável e me joguei na cama, eu estava cansada, mas logo o jantar seria anunciado, não daria tempo de tirar nem um soninho. Infelizmente não resisti, e acabei adormecendo.
Acordei com o mesmo ruído agudo que ouvira no trem, que marcava o anúncio do jantar. Era o sininho da Esverdeada. O som penetrava no meu cérebro, me deixando atordoada, aquilo era pior que despertador. E ela continuava, mesmo que já tivesse visto meus olhos se abrindo, ela continuava, com aquele sorriso maroto, balançando o maldito sininho. Queria dormir e aquele som me deixava irritada.
- Chega! Eu já entendi, tá!? – Exclamei furiosa.
- Nossa... Mal educada! – Rosnou a mulher, com os cabelos verdes quase caindo da cabeça. – Achei que poderia fazer algo com você, mas agora discordo. Venha jantar. – Resmunguei alto e ela saiu batendo raivosamente os saltos em direção à sala de jantar.
Levantei de um pulo, vestindo um roupão amarelo, que estava situado no criado mudo ao lado de minha cama. Cheguei à sala e já estavam todos a mesa, jantando, eu era sempre a última a chegar.
- Achei que não ia vir para comer. – Disse George. – Se não viesse, iria pegar seu bolinho. Você vai comer? – Continuou, olhando fixamente para o bolinho.
- Não, pode pegar. – No ato, ele enfiou a mão no prato dos bolinhos e pegou o que sobrava.